Virgílio (Publius Vergilius Maro, 70 -19 AEC)

Geórgicas
texto original de: http://www.thelatinlibrary.com/verg.html (tradução: Andrea Gaddini)

P. VERGILI MARONIS GEORGICON

LIBER SECVNDVS / LIVRO SEGUNDO
Sed neque Medorum siluae, ditissima terra, 136
nec pulcher Ganges atque auro turbidus Hermus
laudibus Italiae certent,
(...)
... grauidae fruges et Bacchi Massicus umor
impleuere; tenent oleae armentaque laeta.
hinc bellator equus campo sese arduus infert,   145
hinc albi, Clitumne, greges et maxima taurus
uictima, saepe tuo perfusi flumine sacro,
Romanos ad templa deum duxere triumphos.
hic uer adsiduum atque alienis mensibus aestas:
bis grauidae pecudes, bis pomis utilis arbos.   150
Mas nem os bosques dos Medos, terras riquissimas, 136
nem o Ganges lindo e o Hermus turvado de ouro
podem competir com a Itália quanto a virtudes
(...)
... é cheia de abundantes frutos e do humor de Baco do monte Massico,
è coberta de ricos olivais e ricas manadas.
aqui o fogoso cavalo avança no campo de cabeça erguida 145
de aqui, o Clitumno, os brancos rebanhos e o touro, o mais grande dos sacrificados, amiúde mergulhados na tua sagrada corrente,
conduzem os triunfos romanos aos templos dos deuses.
aqui é sempre Primavera e o Verão aparece em meses inusuais:
as ovelhas dão cria duas vezes por ano, duas vezes as árvores dão frutos 150

LIBER TERTIVS / LIVRO TERCEIRO
   Seu quis Olympiacae miratus praemia palmae
pascit equos, seu quis fortis ad aratra iuuencos,    50
corpora praecipue matrum legat. optima toruae
forma bouis cui turpe caput, cui plurima ceruix,
et crurum tenus a mento palearia pendent;
tum longo nullus lateri modus: omnia magna,
pes etiam, et camuris hirtae sub cornibus aures.    55
nec mihi displiceat maculis insignis et albo,
aut iuga detrectans interdumque aspera cornu
et faciem tauro propior, quaeque ardua tota
et gradiens ima uerrit uestigia cauda.
aetas Lucinam iustosque pati hymenaeos             60
desinit ante decem, post quattuor incipit annos;
cetera nec feturae habilis nec fortis aratris.
interea, superat gregibus dum laeta iuuentas,
solue mares; mitte in Venerem pecuaria primus,
atque aliam ex alia generando suffice prolem.       65
optima quaeque dies miseris mortalibus aeui
prima fugit; subeunt morbi tristisque senectus
et labor, et durae rapit inclementia mortis.
semper erunt quarum mutari corpora malis:
semper enim refice ac, ne post amissa requiras,    70
ante ueni et subolem armento sortire quotannis.
     (...)         
     Rursus cura patrum cadere et succedere matrum
incipit. exactis grauidae cum mensibus errant,
non illas grauibus quisquam iuga ducere plaustris, 140
non saltu superare uiam sit passus et acri
carpere prata fuga fluuiosque innare rapacis.
saltibus in uacuis pascunt et plena secundum
flumina, muscus ubi et uiridissima gramine ripa,
speluncaeque tegant et saxea procubet umbra.    145
est lucos Silari circa ilicibusque uirentem
plurimus Alburnum uolitans, cui nomen asilo
Romanum est, oestrum Grai uertere uocantes,
asper, acerba sonans, quo tota exterrita siluis
diffugiunt armenta; furit mugitibus aether              150
concussus siluaeque et sicci ripa Tanagri.
hoc quondam monstro horribilis exercuit iras
Inachiae Iuno pestem meditata iuuencae.
hunc quoque (nam mediis feruoribus acrior instat)
arcebis grauido pecori, armentaque pasces         155
sole recens orto aut noctem ducentibus astris.
     Post partum cura in uitulos traducitur omnis;
continuoque notas et nomina gentis inurunt,
et quos aut pecori malint summittere habendo
aut aris seruare sacros aut scindere terram          160
et campum horrentem fractis inuertere glaebis.
cetera pascuntur uiridis armenta per herbas:
tu quos ad studium atque usum formabis agrestem
iam uitulos hortare uiamque insiste domandi,
dum faciles animi iuuenum, dum mobilis aetas.     165
ac primum laxos tenui de uimine circlos
ceruici subnecte; dehinc, ubi libera colla
seruitio adsuerint, ipsis e torquibus aptos
iunge pares, et coge gradum conferre iuuencos;
atque illis iam saepe rotae ducantur inanes           170
per terram, et summo uestigia puluere signent.
post ualido nitens sub pondere faginus axis
instrepat, et iunctos temo trahat aereus orbis.
interea pubi indomitae non gramina tantum
nec uescas salicum frondes uluamque palustrem,  175
sed frumenta manu carpes sata; nec tibi fetae
more patrum niuea implebunt mulctraria uaccae,
sed tota in dulcis consument ubera natos.
     (...)
     Sed non ulla magis uiris industria firmat
quam Venerem et caeci stimulos auertere amoris, 210
siue boum siue est cui gratior usus equorum.
atque ideo tauros procul atque in sola relegant
pascua post montem oppositum et trans flumina lata,
aut intus clausos satura ad praesepia seruant.
carpit enim uiris paulatim uritque uidendo             215
femina, nec nemorum patitur meminisse nec herbae
dulcibus illa quidem inlecebris, et saepe superbos
cornibus inter se subigit decernere amantis.
pascitur in magna Sila formosa iuuenca:
illi alternantes multa ui proelia miscent                220
uulneribus crebris; lauit ater corpora sanguis,
uersaque in obnixos urgentur cornua uasto
cum gemitu; reboant siluaeque et longus Olympus.
nec mos bellantis una stabulare, sed alter
uictus abit longeque ignotis exsulat oris,              225
multa gemens ignominiam plagasque superbi
uictoris, tum quos amisit inultus amores,
et stabula aspectans regnis excessit auitis.
ergo omni cura uiris exercet et inter
dura iacet pernox instrato saxa cubili                  230
frondibus hirsutis et carice pastus acuta,
et temptat sese atque irasci in cornua discit
arboris obnixus trunco, uentosque lacessit
ictibus, et sparsa ad pugnam proludit harena.
post ubi collectum robur uiresque refectae,         235
signa mouet praecepsque oblitum fertur in hostem.
Quer quem cria cavalos aspirando à vitória da palma olímpica,
quer quem cria gado forte na aradura,                               50
escolha antes de mais a conformação das mães:
as melhores têm uma cabeça feia, o pescoço muito grosso,
e a barbela que pende do queixo aos joelhos;
tenha também flancos de comprimento sem limites: seja toda grande,
mesmo seus pés, com orelhas peludas debaixo de chifres curvados.  55
Nem despraz-me se é branca com grandes malhas,
ou se às vezes levanta-se contra o jugo com seus chifres pontiagudos
e parece mais que tudo um touro, e avança toda erguida
varrendose a extremidade dos pés com sua cauda.
A idade para devotar-se a Lucina e a um justo acasalamento           60
termina antes do décimo ano, e começa passado o quarto;
fora destas idades não é apta para dar cria, nem forte para o arado.
Entretanto, até que a alegre juventude fica com a manada,
deixa os machos livres, e manda primeiro as manadas para Vénus,
e renova a progénie, gerando cada animal de outro.           65
Qualquer que seja o melhor dia na vida dos miseráveis mortais
primeiro foge; e chegam as doenças e a triste velhice
e o afã; e a dura morte vêm implacável raptar.
Sempre haverá cabeças que quererás substituir: e sempre criarás outras, para não ficar desprovido por ter-as refugadas,  70
mexa-te adiantado e escolha as recrias da manada cada ano      
(...)         
Então os cuidados para os pais terminam e começam aqueles para as mães. Enquanto vagueiam grávidas, com o passar dos meses de gravidez, ninguém deixe que puxem o jugo de carros pesados, 140
nem cruzem saltando uma passagem ou fujam sulcando os prados e mergulhem-se para nadar em rios impetuosos.
Mandem-se apascentar em pastos livres, perto de rios cheios,
onde há musgo e margens verdejantes de erva,
onde as grutas abrigam-a e as rochas projectam sua sombra      145
Perto dos bosques do Sele e do Alburno luxuriante de azinheiras
esvoaça em densos enxames a mutuca, que os Romanos chamam
tavão e os Gregos traduzem como estro, furioso, de som áspero,
de quem as manadas fogem, dispersando-se todas assustadas nos bosques; o ar é abalado por furibundos mugidos                    150
como também os bosques e a margem do Tanâgro na vazante.
Por meio deste monstro horrível Juno expressou sua raiva
contra a novilha Io, filha de Ínaco, determinando sua perdição.
Esto também (mais obsidiante no calor do meio-dia)
manterás longe das vacas grávidas, e deixarás pastar as manadas    155
com o sol que acaba de nascer ou quando as estrelas levam a noite.
 Depois do parto, todos os cuidados transferem-se aos bezerros;
e logo ferram-se em brasa com a marca e o nome da raça,
escolhendo os que criarão-se como reprodutores
ou os que sacrificar
ão-se nos altares ou destinarão-se à charrua    160
para revolver os campos hirtos de torrões quebrados.
O resto do gado faz-se pastar na erva verde:
e aqueles que treinarás ao trabajo e ao emprego rural exorta-os
já quando são bezerros e começa dedicar-te à domação,
enquanto tenham o caráter manso e plasmável da juventude.         165
Antes de mais encabrestra-os pelo pescoço com laços bambos
feitos com vime fino; então, quando o pescoço livre
será acostumado ao cativeiro, com os mesmos laços amarra-os
em parelhas, e força-os avançar juntos; e já podes
fazer-lhe amiúde puxar no campo carros sem carga,                      170
para que deixem uma pegada na superfície do chão.
Depois, avançando sob um grande peso, o eixo de faia ranje
e o timão de bronze puxe as rodas juntas em círculo.
Entretanto não alimentaras os bezerros não amansados só
com erva, folhagens de salgueiro e ervas de pântano,                       175
mas colhe à mão o trigo que semeaste; e as vacas recém-paridas
não encherão teu balde de líquido níveo como no tempo de nossos pais, mas esvaziarão todas suas úberes para suas queridas crias.
(...)
    Contudo nenhum cuidado retempra as forças mais que
desviar-os de Vénus e dos estímulos do cego amor,                210
quer por aqueles que criam gado, quer por aqueles que preferem cavalos.
E por isso os touros confinam-se longe em pastos solitários
com uma montanha interposta e além de amplos ríos,
ou encerram-se dentro de estábulos, em frente de manjedouras cheias.
De facto a fêmea consume as forças pouco a pouco e inflama  215
só ao ver-a e não permite recordar os bosques e os prados
e mesmo com seus doces atractivos, amiúde empurra seus orgulhosos amantes a lutar um contra o outro com seus chifres.
Na grande Sila pasta uma linda novilha:
eles alternando-se lutam com grande ímpeto                                     220
com freqüentes golpes; o sangue escuro salpica os corpos,
e os chifres apontados contra os rivais são empurrados com enorme ruído; ressoam as selvas e o imenso Olimpo.
E não è costume de manter os rivais no mesmo estábulo,
mas o vencido seja afastado e exilado em lugares distantes,          225
lamentando alto a vergonha e as feridas causadas pelo vencedor orgulhoso, e então chorando os amores perdidos sem vingança,
quando mirando o estábulo abandonou as possessões dos pais.
Então usa suas forças com grande cuidado e jaz entre duras rochas
passando toda a noite em leitos ao ar livre                                  230
e pasta folhas espinhosas e canas pungentes,
e põe-se à prova e aprende desafogar-se com os chifres
contra o firme tronco duma árvore, desafiando os ventos
com seus golpes, e atira pelo ar a terra treinandose à batalha.
Então, apenas junta as forças e recupera energias,                      235
apresenta batalha e de cabeça lança-se contra o inimigo ignaro.

das "Bucólicas"

P. VERGILI MARONIS ECLOGA TERTIA

texto original de: http://www.thelatinlibrary.com/vergil/ec3.shtml (tradução: Andrea Gaddini)
Damoetas
Heu heu, quam pingui macer est mihi taurus in ervo! 100
idem amor exitium pecori pecorisque magistro.
Dametas
Oh! como é fraco meo touro apesar do que pasta na rica ervilhaca! 100
o amor leva à perdição quer o gado,
quer quem cuida o gado.

Me desculpo por qualquer falha na tradução portuguesa:
se você deseja comunicar comígo para correções e/ou comentários,
escreva-me

página criada em: 1ro julho 2010 e modificada pela última vez em: 9 julho 2010