Quem lhe recorda?

"O chefe do governo sujou-se várias vezes durante a sua carreira de delitos que, em presença dum povo honesto, teria-lhe merecido a condenação, a vergonha e a privação de qualquer autoridade de governo. O povo tolerou e mesmo aplaudiu estes crimes? Uma parte por insensibilidade moral, uma parte por astúcia, uma parte por interesse e lucro pessoal. A maioria dava-se naturalmente conta das suas actividades criminosas, mas preferia dar o seu voto ao mais forte em vez do justo.
Lamentavelmente o povo italiano, se tem que escolher entre o dever e o lucro, mesmo conhecendo o que seria o seu dever, sempre escolhe o lucro. Por conseguinte um homem medíocre, grosseiro, com eloquência vulgar mas de fácil efeito, é um perfeito espécime dos seus contemporâneos. Num povo honesto, teria sido quando muito o líder dum partido de modesto êxito, um personagem um pouco ridículo para as suas maneiras, as suas atitudes, as suas manias de grandeza, insultante pelo bom-senso da gente pelo seu estilo enfático e impudico. Na Itália tornou-se o chefe do governo. E é difícil encontrar um mais completo exemplo italiano.
Admirador da força, vénal, corruptível e corrompido, católico sem acreditar em Deus, presunçoso, vaidoso, falsamente bondoso, bom pai de família mas com várias amantes, serve-se dos que despreza, rodea-se de desonestos, de mentirosos, de incapazes, de aproveitadores; sendo um hábil mimo faz efeito sobre um público ordinário, mas, como cada mimo, falta do seu próprio carácter, imagina sempre de ser o personagem que quer representar."

Qualquer coisa tivessem pensado, o texto de Elsa Morante de 1945 refere-se à Mussolini …
Elsa Morante (1912-1985)

Cada referência à pessoas ou coisas actuais é, ai de mim, não intencionalmente fortuita.

Me desculpo por qualquer falha na tradução portuguesa:
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página criada em: 10 abril 2010 e modificada pela última vez em: 10 abril 2010